segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

11.º Aniversário..., o ano da não escrita


Sines na popa e eu a pensar que já passou um ano sem que uma palavra aqui fosse escrita..., nem uma foto, nem uma cartinha..., nada. Até parece uma anedota, velha, relativamente conhecida e meio parva, aliás como a maioria delas, mas fazem rir, e rir faz falta.
Muito sinceramente fiquei inicialmente nostálgico, ao que se seguiu aquela sensação de estar em falta com alguma coisa..., neste caso, certamente com a escrita, lembrando-me de imediato de um ou outro leitor habitual que, em encontro casual, ou troca de impressões algures pelas "nets", me diz, em modo de crítica: ah e tal..., nunca mais escreveu nada, nem umas fotos..., e lá voltamos à tal anedota. 

Alturas houve em que me sentia um pouco mal..., afinal habituei os leitores à regularidade de escrita. O certo é que a minha vida, a minha pesca e consequentemente a minha escrita, de há uns tempos para cá, de regular, têm muito pouco. Portanto Pessoal, se eu posso viver com isso e adaptar-me, acho que o mesmo se aplica a todos vós.

O tempo necessário para escrever, até o tenho, o que me falta é o controlo sobre o mesmo, reflectindo-se isso, principalmente, na disposição e inspiração para escrever como gosto..., contando a pesca, contado a história, deixando as notas técnicas nas entrelinhas, brincando com tudo, até com as palavras. Não me estou a desculpar, ou a justificar, antes a constatar factos influentes nas relações que convosco tenho vindo a estabelecer, através deste local e até com alguns de vós que, fora do contexto virtual, são meus amigos.

E a pesca...? Continua?

Claro que sim, mas a frequência não consegue ser a mesma e a vontade de inovar em termos técnicos é grande, sendo que ambas as razões, em termos de resultados, são também inimigas de quem quer escrever apoiado nestes, coisa que sempre fiz e faço questão de manter, única forma que reconheço como credível para quem se atreve a criar um local deste tipo. É discutível..., talvez; mas é o que acho.

Inicio esta entrada no dia 23 de Janeiro de 2018, data em que o blogue faz onze anos de idade, pensando que não vou conseguir publicá-la hoje, mas, para todos os efeitos, acho importante deixar esta nota, assinalando assim o momento.
Considerando a ausência da "Minha Pesca" durante todo o 2017, vamos então fazer um rescaldo do ano velho.

Ainda sobre a frequência com que pesco, embora de cada vez que vou para Sines fique por lá dois a quatro dias, chego a estar três semanas, e por vezes mais tempo, sem ir, tendo em conta a conjugação do tempo disponível com as condições climatéricas. Tempos atrás costumava ir menos dias seguidos, mas com mais frequência, o que me mantinha mais em contacto com a localização do peixe face a cada época do ano.
Actualmente, valho-me do conhecimento anterior e testo os pesqueiros nos primeiros dias, sendo muitas vezes nos últimos que consigo ter algum sucesso. Pode até dizer-se que nos primeiros dias pesco um pouco na bruma, mais ou menos como figura a imagem seguinte, ou seja, começo com "visão" limitada no primeiro e às vezes no segundo dia, levantando-se o nevoeiro que me permite perspectivar o horizonte, nos dias que se seguem.

 

Há razão para ficar triste ou incomodado?

Nem pensar!

Quantas pessoas têm a sorte de conseguir pescar dias seguidos?
Não quero, nem devo queixar-me de situações deste tipo. Na minha opinião, tais queixas representariam fortes ofensas para qualquer pescador que só consegue ir um ou dois dias por mês, com sorte.

Analisando mais profundamente algumas razões da não escrita, a vontade de mudar, principalmente de técnicas, parece-me ter algumas "culpas significativas no cartório". Pescar só ao fundo com o barco fundeado, embora continue a gostar, já não me chega. Quero pescar mais com amostras, com isca viva..., em suma, fazer outras coisas. Tal consome tempo, obriga a testar outros materiais, a funcionar doutras formas e os resultados que procuramos não são imediatos. Claro que a escrita, como a entendo, tem aqui mais uma razão para sofrer. Resta saber até quando.

Nesta peregrinação 2017, entre o antes e o depois, interrompida, aqui e ali, por razões com que não quero aborrecê-los, algumas pescarias se fizeram, umas que ficaram em imagem, outras que nem por isso e nenhuma delas aqui relatada em tempo útil. Por tal, vou tentar colocá-los ao corrente, tentando ser o menos fastidioso possível.

Os calendários estão na moda, mas não vou mostrar os meus músculos, em poses mais ou menos sensuais, antes, alguns destaques, em formato capturas, ao longo dos meses em que consegui pescar, tanto minhas, quanto de companheiros que comigo pescaram lá a bordo.

Janeiro:

Mês do último artigo / entrada, com uns peixitos, para além do que, nem as janeiras cantei. Se fosse um calendário fotográfico "daqueles"..., possivelmente nem um músculo se via.

Fevereiro:

A coisa até que alegrou, iniciando-se com um workshop de acção de pesca ao fundo, em barco fundeado, actividade que vou mantendo quando posso e cujos participantes acabaram por vir comigo colocar em prática as teorias conversadas, conseguindo até uns peixitos razoáveis.

O Cris com o maior Alfaquim:


O Paulo com o maior Sargo:


A pesca do dia, onde uns Robalitos marcaram presença:


A Sardinha, como isca, foi a principal culpada, embora coadjuvada pelo Caranguejo.

Ainda em Fevereiro, numa outra saída pouco frutífera, salvou-se uma Choupa de tamanho cada vez mais raro, capturada pelo meu amigo Ferreira.


E do Fevereiro não reza mais história.

Março:

O Jigging marcou o mês, em duas jornadas, com diversas versões técnicas tentadas, nomeadamente Speed e Slow Pitch, com utilização de amostras supostamente adequadas, em chumbo, também com vinis, sendo que todos os tipos de amostras conseguiram resultados, em determinados momentos, e condições específicas.

Deixo-vos algumas das amostras utilizadas e imagens das duas jornadas, por ordem de capturas: 


1.ª Jornada:

O Cosme com o primeiro peixe do dia, um Robalo, em modo de Speed Jigging, relativamente perto do fundo, com uma amostra que segundo ele, tinha dado que falar pelos Açores.


A minha vez, com um vinil, saiu-me este Serrajão, passado algum tempo de ter perdido um suposto Mero, que, por minha desatenção e consequente parvoeira, entocou e ficou com a amostra que lhe apresentei.


Depois o Luís Mira, ainda na mesma zona de pesqueiros, em modo de Slow Jigging, com mais um Serrajão.


Mudámos de zona, e desta vez, também em modo do Slow Jigging, fui outra vez contemplado com o Alfaquim que se segue. 


A acção continuou, terminando o dia com mais um Pargo que saiu ao Cosme. Mais uma vez em Speed Jigging


Uma jornada que, em resumo, não foi de todo má, faltando outros exemplares..., aqueles que sempre procuramos, de melhor qualidade e tamanho.

2.ª Jornada:

Duas semanas depois, foi a vez de ir com o meu amigo Fernando, num dia de mar chão, em que muito se andou, muito se trabalhou, mas capturas, para além de umas quantas Cavalas e Carapaus, só o Badejo que ele abaixo apresenta.


Neste dia, no entanto, já de volta ao porto, a uns 500 metros da entrada, tivemos uma visão impressionante e completamente inesperada..., na proa do barco, a uns 50 metros, ou pouco mais, vimos o que pareciam ser uns golfinhos a saltar..., mentira!
Os meus olhos, com algum treino adquirido nos tempos que andei por Cabo Verde, disseram-me de imediato que aquilo não pareciam golfinhos..., nem queria acreditar, mas eram de facto atuns, para aí de 15 a 20kg, se é que a visão não me enganou quanto ao tamanho.
Nem pensámos muito..., seguimos para a zona, sonda aberta, a vê-los, e vá de amostras para baixo, de vários tipos, com animações variadas, explorando as profundidades onde se viam, a partir de baixo, e até lançando à superfície e fazendo-as deslizar altas, por vezes planando, mas nada. E depois caiu o Sol e ficou o silêncio, na sonda e no mar em volta que corremos com os olhos e com o barco, tentando negar o insucesso à vista.

Analisando o acontecido, vários pensamentos nos assolaram..., quem diria? Depois de tanto penarmos todo o santo dia, foi à "porta de casa" que demos com aquele espectáculo, e, no calor do momento, nem sequer conseguimos perceber se reagimos da melhor forma, ou fizemos tudo o que devíamos para conseguir capturar um daqueles exemplares!?
Uma coisa é certa, por relatos de outros pescadores, não é raro que por alturas de Março / Abril e Setembro / Outubro, em zonas diversas, não longe do porto, tais acontecimentos se dêem, o que nos deixa alerta para outras tentativas nestas épocas, assim como nos diz que muito pode acontecer nesta nossa actividade, desde que as mentes e os olhos, estejam bem abertos.

E assim se fechou o Março!

Abril:

Para além de ir passear a Sines e pôr o barco a trabalhar, em dia de mau tempo, o único que tinha livre, a pesca passou em claro. Nada a fazer, ou dizer. 

Maio:

Só fui três dias, de uma única vez, sendo que nos dois primeiros, em que pesquei fundeado, para além de uns sargos legítimos e uns parguitos, dos quais não reza a história, nada de relevante a acrescentar.
Foi no 3.º dia, em modo de Jigging, que se conseguiram uns peixitos, ambos ferrados durante a queda longa da amostra após animação gradual e lenta, elevando a cana acima da cabeça, técnica esta, hoje em dia conhecida, na gíria do Jigging, como Long Fall.
Ambos os pargos se atiraram junto ao fundo; o robalo, para aí uns cinco metros acima e junto à base da mesma estrutura, que subia dos 56 para os 42 metros de profundidade, para aí com meia hora de diferença entre capturas e após trocas de amostras, como se pode ver nas  imagens seguintes.

O 1.º pargo:

O robalo:


O 2.º pargo


E pronto..., lá se foi o Maio, um mês em que o trabalho aperta, assim como o seguinte, em que só uma escapadela de última hora, deu para molhar as linhas e as amostras. Venha ele...

Junho:

Um dia para ir e preparar, com pesca ao fundo de fim de dia e peixe para jantar, outro para Jigging e ala para casa que se faz tarde. E foi uma sorte..., não fora o adiamento de uma prova e, neste mês, nem via a cor do mar de Sines.

Lá fomos, eu, e o meu amigo Carlos Filipe, com mais vento que o que se previa, mas, ou desistiamos, ou tínhamos de nos adaptar. Foi o que fizemos.

O vento que já se fazia sentir aconselhou-nos a não ir muito para fora, o que nos fez bater pesqueiros mais perto, cedo sentindo a velocidade das derivas que não nos permitiam explorar os pesqueiros como gostamos.
Os habituais carapaus e cavalas lá nos iam assediando, mas nada de mais conseguíamos capturar. Quanto ao vento..., ia aumentando, o que, com o passar das horas, nos sugeria a volta ao porto, mas era cedo para desistir.
Em desespero de causa, resolvemos arriscar mais junto a terra, consequentemente menos fundo, onde os efeitos do vento se sentiam um pouco menos e as amostras não tinham de descer tanto. Mesmo assim, as derivas continuavam rápidas e optámos por vinis com cabeçotes para o pesado (80 / 100g), a trabalhar correndo as bases e paredes duma estrutura submarina cujos contornos evoluíam entre os 28 e os 19 metros de profundidade.

As passagens paralelas sobre as paredes e os bicos da referida estrutura foram-se sucedendo, sentindo por vezes a amostra a tocar-lhes, dando mais linha ou encurtando-a, até que, numa das passagens  calculadas, da amostra sobre o bico, logo após ter dado um pouco de linha, senti uma prisão muito idêntica a um arrochanço, sensação que de imediato se desfez, quando a vivacidade da fuga e consequente luta me disseram que o fundo não foge assim, culminando na captura da Garoupa Dourada que se segue.


As tentativas continuaram, o vento não parava de aumentar e a volta ao porto e a casa, foram os passos seguintes.
Que bom seria poder adequar as saídas de pesca, tendo como única condicionante as condições meteorológicas, mas, como a maioria dos companheiros, não consigo que assim seja.

Julho:

Um mês que me conseguiu surpreender por, entre trabalhos variados, conseguir duas idas a Sines. Um espanto!

A já referida falta de controlo e consequente impossibilidade de programar minimamente as saídas, obrigou-me a pescar a solo mais vezes que o habitual. Por norma, vislumbro uma aberta, falo com a família e saio duas horas depois. Resultado..., o Pessoal amigo que consigo contactar, não pode ir. Os que poderiam ir, não os consigo contactar. É a vida, e lá vou eu, pensando: logo se vê o que dá!?

A preguiça também não ajuda..., levanto-me tarde e más horas, vejo algum vento, penso em derivas rápidas, barco a balançar lateralmente, e vá de optar pelo conforto, pescando fundeado. Na volta faço mal, devia talvez optar diferente, mas sabe-me bem e..., pronto.

7 de Julho..., águas já menos frias, maiores probabilidades de peixe encostado à terra, abrigado da Nortada, e fundeio pertinho. Ferro largado aos 23 metros, para que as iscas actuem nos 31, e vá de sardinha para baixo, em montagem de dois estralhos, com 60 e 80cm, anzol 5/0, em cima, e 6/0, em baixo.
O roubo de iscas não se faz esperar, muito peixe miúdo, alguns sargos legítimos a darem um ar da sua graça e também alguns Parguitos, alguns a serem devolvidos. Não por medida ilegal, sim, por medida, como direi..., talvez ética.
Com base naquela "regra", se é que tal se pode aplicar na pesca, que alvitra: onde há pequeno, os grandes hão-de aparecer, fui insistindo, mas o certo é que, quer com iscas pequenas, quer com grandes, aplicadas em modos variados, tudo desaparecia ao minuto, e os maiores..., nem vê-los.

Uma pequena aguagem, quase imperceptível usando chumbadas de 120g, fez-me pensar que talvez pescando à chumbadinha fora da zona por baixo do barco, e mais alto na coluna de água, algo  melhor poderia ser enganado, antes que os gaiatos engodados chegassem à isca.

Peguei na outra cana, apliquei-lhe uma chumbada de correr com 30g, um anzol 8/0, e isquei uma sardinha inteira, do rabo para a cabeça.
A água corria leve para a proa, contrária ao vento. O bico de pedra, onde o ferro se prendia, estava alinhado com a proa do barco. Lancei para esse lado, abrindo para estibordo, na direcção da beirada lateral da estrutura, deixando que o fio saísse sem interrupções e esperando que, tendo em conta a lentidão da descida, cavalas, bogas, choupas pequenas e carapaus, permitissem que a isca corresse em direcção ao fundo, eventualmente passando perto de ventas mais interessantes. E, as ventas que procurava, não sendo muitas, como mais tarde se veria, não se fizeram rogadas.
Não muito longe do fundo, a linha começou a sair com rapidez muito superior à da descida, deixei levar mais um pouco e travei-a, primeiro com a mão. A cana dobrou, baixei a asa de cesto e deixei cantar o carreto. Recuperei. Cantou mais duas ou três vezes e fui recuperando nos intervalos, até que cá acima chegasse o Pargo Dourado não muito grande que abaixo se vê.


Estava por ali haviam umas três horas e nada disto tinha conseguido. Ou chegou na altura, ou então..., vejamos o que me mostraram as entranhas quando lhes meti a faca: cabeças e rabos de sardinha, eram bastantes, assim como duas cavalas pequenas, meio mastigadas e com ar de terem sido ingeridas recentemente, tudo indicando que foi atraído pelos bocados que se vão atirando borda fora e entretanto foi-se divertindo, à grande, atrás do peixe miúdo que por ali andava, até que algo fácil lhe caiu perto e, vai daí..., tramou-se!
Será que foi assim? Talvez!?
Certo é que, após esta captura e durante mais umas 3 horas de pesca, usando a mesma técnica - chumbadinha - só uma meia dúzia de sargos legítimos, de tamanhos consideráveis colaboraram. As sardinhas inteiras e cavalas frescas, atadas com fio de silicone, iam sendo consumidas, mas pargos maiores, nem mais um. Porquê? Não faço ideia!?

Verdade que, atendendo à quantidade de peixe miúdo que, como tudo indicava, estava por baixo do barco, e à distância a que o pargo foi capturado, duvido que o tivesse conseguido se me tenho mantido a pescar ao fundo, com estralhos, por baixo do barco. Isto porque, com a quantidade de alimento vivo que por ali havia, dificilmente o bicho se aproximaria das minhas iscas a tempo de as ver inteiras, interessar-se, correr com os gaiatos e comê-las.

22 de Julho..., mais uma pescaria de última hora, desta vez acompanhado do meu amigo Fernando Fontes que por lá andava, também a solo.
Mesmo pesqueiro de 7 de Julho, sinais muito idênticos, e desta vez, foi a cavala fresca, iscada em filetes, em baixada a pescar ao fundo, que permitiu ao Fernando o exemplar que se vê.


Uns quantos sargos legítimos e um ou dois pargos mais pequenos, compuseram o ramalhete, em dia calmo, sem pressas e algum peixe.
A chumbadinha não rendeu, não sei se devido à ausência de aguagem, ou, pura e simplesmente, por não ter caído na hora certa, no sítio certo e com a iscada certa. Nunca saberemos.

Agosto:

Tempo de família, férias com neta, e duas jornadas de pesca.

Jornada 1:

Pesqueiros baixos, alguns sargos legítimos, duas douradas, um sargo veado, com destaque para o maior exemplar que saiu ao meu amigo Gama, também com cavala fresca, "au filet".


Grande susto que o gama apanhou, quanto o "artista acima", em fundo de 30 metros, fugiu direito a Porto Covo, quase lhe levando a a cana.
Belas as lutas destes bichos, em pouca profundidade.

Jornada 2:

Saída com o Manuel Matos, o Luís Pinto e o Zé de Almeida, companheiros do pesqueiro.pt, num dia de pesca difícil, em que os poucos peixes que entraram, valeram pela resiliência dos pescadores que nunca desistiram. A dourada, abaixo apresentada pelo Manuel, revelou-se o melhor exemplar desta jornada.


Setembro:

Mais um mês que ficou em branco. E logo este..., um daqueles que considero como um dos melhores para pescar. Paciência.

Outubro:

Mais uma ida para Sines, com as primeiras duas saídas sem capturas relevantes. Valeu o terceiro dia, também com os companheiros do Pesqueiro, em que os sargos foram os artistas principais, como este aqui apresentado pelo Luís.


Aos sargos juntaram-se algumas outras capturas menos interessantes, e eu lá consegui rematar a pescaria com uma dourada maiorzita que, supostamente, daria o mote para outras irmãs, mas o facto é que foi a única do dia, caindo a uma iscada de duas postas de sardinha, mesmo tendo por ali outros anzóis iscados com caranguejo.


E assim terminou o Outubro, dando lugar ao...

Novembro:

Mais um mês, em que só consegui ir uma vez para Sines, durante dois dias e meio. Meio..., porque no 1.º dia cheguei pela uma hora da tarde, fui buscar o gelo e a isca para o dia seguinte, antes de uns arranjos que tinha para fazer no barco, nomeadamente trocar o ferro de fundear que tinha ido soldar uma unha.
Os trabalhos acabaram mais cedo que o previsto, o mar estava um espectáculo, e não resisti..., saí para apanhar o jantar, nem que fosse só para mim.

Certo é que, em pouco mais de uma hora útil de acção de pesca, fiquei com a caixinha térmica assim:


Em vez de apanhar o jantar só para mim, jantaram mais uns quantos e tive de congelar peixe. Posso-vos no entanto dizer que nos dois dias seguintes nem de perto se conseguiram melhores peixes, tendo em conta a proporcionalidade do tempo útil de pesca e até os exemplares conseguidos. E nem foi à falta de explorar os mesmos pesqueiros de formas diversas.

Como explicar? Não faço ideia!?

Dezembro:

Último mês do ano, assim como a última e única pescaria possível, sem grandes capturas, tanto em qualidade, quanto em quantidade, realçando a dourada do meu amigo Severino, melhor exemplar do dia.


Assim foram os meses deste meu ano de 2017..., pesca com intervalos bem maiores do que gostaria, vontade de vir escrever, limitada por novos afazeres, alguns peixes, alguns testes de mar e muita consulta, incidindo no que, para mim, são adaptações de novas técnicas e materiais. Vamos ver o que nos traz o 2018.

Só para terem uma ideia, iniciei esta entrada no dia 23, e só hoje, dia 29, a consegui publicar. Tempos atrás, uma entrada deste tipo, quanto muito, se a iniciasse num dia, no outro estaria pronta.

Portanto, meus amigos, desta vez nada prometo. Vamos ver o que traz o Ano Novo, esperando que seja o melhor possível para todos nós.

Uma boa noite a todos os leitores.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O 10.º Aniversário...


Pois é Pessoal..., completam-se hoje dez anos desde que aqui publiquei o primeiro artigo: A Minha Pesca.

O referido escrito - qual introdução - deixou o mote sobre o que iria ser este local, achando eu que sempre me mantive fiel às intenções iniciais, cabendo no entanto aos leitores, avaliarem sobre tal afirmação.

Muitas saídas com o mar à proa, muitas voltas com o Sol a pôr-se...


..., muitas pescarias, umas melhores, outras nem por isso, sempre explicadas, fundamentadas com resultados, sem certezas, com alguma regularidade, mas sempre evitando induzir em erro fosse quem fosse.

A regularidade de escrita foi-se alterando, assim como a vida, num processo em continua mudança, mas o certo é que muito está por aqui escrito, revelando a história da minha pesca e, penso eu, servindo a muitos nos seus primeiros passos, não sei até, se nos segundos ou terceiros.

Mal grado a recente irregularidade de escrita, o blogue está vivo de consultas, o que me deixa satisfeito e até com uma pontinha de orgulho, assolando-me por vezes algum desconforto por não ter conseguido, nos últimos tempos, corresponder com os relatos, histórias, reflexões..., a que vos habituei.

Não se pense que estou parado, ou que deixei de viver a pesca, ou pescar, não..., nada disso. O controlo do meu tempo disponível é que se alterou, mas isto passa. Não sei quando..., mas há-de passar.

Achei no entanto que devia celebrar convosco esta data, para mim importante, inclusivamente por ver que a minha pesca continua a dar frutos e a fazer felizes aqueles que comigo vão pescando e convivendo mais de perto, ou aqueles que participam nos pequenos workshops teóricos e práticos que, também com alguma irregularidade, vou dinamizando.

São prova disso, o meu amigo Fernando, numa pesca de fim de tarde, deste Inverno friorento, em que fomos tentar apanhar o jantar e lhe saiu este Bandeireiro:


Também o meu amigo Zé, feliz com a sua Dourada, em dia razoável de capturas:


E ainda parte do pessoal que participou no último workshop, em que ontem, dia 22, durante o "teste prático", viram, entre outros, cinco Alfaquins encontrarem as suas iscas:


Por tudo isto, caros leitores, quero convosco brindar ao 10.º aniversário aqui da "Nossa Pesca", esperando que possamos, com a regularidade possível, continuar a pescar e a conversar durante uns tempos.

Para todos, fica o meu forte e sentido abraço.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Boas Festas e..., outros votos.



Boas Festas para nós pescadores, parece-me pouco. Não querendo exagerar, deixo então mais alguns votos:

- Muita saúde para que a pesca não se ressinta.
- Emprego e alguma matéria disponível, daquela com que "se compram os melões", para chegarem a materiais e deslocações essenciais.
- Apoio familiar que baste para poderem pescar descansados..., não sei se me estão a entender!?
- A benevolência dos Deuses..., principalmente Éolo e Neptuno.
- Canas que não se partam, carretos e barcos que não se avariem, fios que aguentem as vossas lutas e anzóis que ferrem bem os vossos peixes.
- Os presentes mais queridos, se não for no sapatinho, que seja numa meia, numa tigela, num púcaro, num alguidar, ou noutra coisa qualquer.
- Iscas suficientes e bem escolhidas.., e tantas outras coisas que se necessitam, como por exemplo a cura para o enjoo no mar, no caso daqueles que sofrem dessa maleita.
- Amigos pescadores que vos acompanhem e falem de pesca até não haver amanhã, mesmo em tempos de sequeiro.

Fico-me mais ou menos por aqui, só não desejando que os peixes colaborem, pois os coitados não estão lá para isso, antes pelo contrário. Tal obriga-me ainda a desejar-vos que, cada vez mais e melhor, consigam contrariar a normal falta de colaboração dos nossos "interlocutores".

Finalmente, que a segurança na pesca apeada, embarcada ou com drone, seja algo que tenham sempre presente, promovendo um ano de pesca fantástico, em que, com mais ou menos peixe, tudo corra pelo melhor.

Forte abraço a todos os leitores.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Material, resultados..., complicamos, simplificamos, ou nem por isso?


O Porto de Recreio de Sines, à popa, o motor a aquecer antes de acelerar em direcção ao pesqueiro previamente escolhido, e a minha consciência a moer-me sobre a escrita no blogue, os amigos, ou nem tanto, que há muito não me ouvem..., mas porque raio, logo agora que vou pescar, me fui lembrar disto?
Talvez porque se sente a falta do que se gosta, talvez porque se sentem algumas obrigações, talvez até, neste momento de descontracção, só meu, a escrita tenha sido um complemento em falta para que o estado de graça fosse completo!?

Não adianta, nem se justifica, começar a desfiar razões sobre tanto tempo sem escrever e, muito menos, desculpas. Tinha de vos contar a minha vida toda e não é para isso que me visitam. Portanto, vamos mas é falar de pesca.

O tema que escolhi, sendo importante, em termos de escrita e até de discussão presencial, não me é grato. Escolhi-o talvez por acontecimentos e conversas recentes, ou até por penitência.
Por tal, vou tentar ser breve e nem pensem que vou fazer uma entrada como aquela que mais se lê neste blogue - Material de Pesca..., uma dor de cabeça - e que, em termos de conceitos e processos, continua, na minha opinião, perfeitamente actual.

O principal objectivo desta entrada é tentar poupar passos a pescadores menos avisados, reflectindo sobre a influência do material nos nossos sucessos ou insucessos, face a outros factores que poderão ser tão mais importantes, mas cuja discussão me parece menos usual, podendo as mais habituais trocas de ideias sobre materiais em uso, de algum modo, escamotearem variáveis tão importantes como a escolha do pesqueiro, o fundeio correcto, as iscas e formas de iscar, ou, quanto a mim, bem mais influentes, os comportamentos dos pescadores em acção de pesca.

As reflexões vão iniciar-se pela escolha dos fios - multifilares e monofilares - essencialmente no que respeita a espessuras e qualidades a utilizar para determinadas técnicas de pesca embarcada, e também nos anzóis - tipos e tamanhos - situando-me essencialmente naquela que mais pratico: no mar, ao fundo, em embarcação fundeada.

Antes de avançar, importa referir que fios e anzóis participarão de uma montagem que, por sua vez, se aplicará num carreto e numa cana, ou pesca de mão, com uma chumbada no fim, formando o que defino como "Conjunto de Pesca"(CP). Por tal, não se poderá falar de fios e anzóis, sem abordar algumas características dos restantes materiais que complementam o conjunto, não esquecendo o factor mais importante: o homem, ou mulher, que vai usá-lo, suas preferências e comportamentos em acção de pesca..., complicado!?

Certo é que..., para podermos simplificar, teremos primeiro que complicar, se não muito, pelo menos um pouco.

A qualidade de um fio, seja ele mono ou multifilar, ou de qualquer anzol, deverá sempre ser a melhor possível face aos preços que cada um pode ou acha que deve pagar, exceptuando talvez os monos usados para base de enchimento de carretos, ou aqueles para servirem para fiel da chumbada.

No que respeita às escolhas de espessuras / resistências de fios, e dos tamanhos e formatos de anzóis, vejamos alguns fundamentos possíveis que, conjugados, proporcionem o equilíbrio dum CP, em acção, e minimizem as hipóteses de perder o peixe da vida.

Fundamentos relativos a escolhas de qualidades, espessuras / resistências de fios:

Os fios a adquirir deverão, quanto a elasticidade / rigidez, adequar-se ao CP, com o objectivo de cumprirem, o melhor possível, quatro funções:
- apresentar bem a isca;
- sentir;
- ferrar;
- lutar com o peixe até que o coloquemos no poço do barco.

Influência da elasticidade e da rigidez dos materiais no desempenho das funções do CP:

CP com mais elasticidade:
- tende a apresentar melhor a isca, tendo em conta que esta ficará sujeita a menos movimentos bruscos não controlados, tanto no que respeita aos movimentos de fundo que o mar sempre imprime, quanto aos do próprio barco, quando sujeito a vagas largas e altas, ou de cachão de vento;
- assegura uma luta mais equilibrada e segura com qualquer tipo de peixe, nomeadamente com exemplares de maior porte;
- diminui a capacidade de sentir os toques do peixe;
- diminui a capacidade de ferragem, ao aumentar o esforço para a efectuar, tendo em conta que a cana terá de ser elevada a altura superior, e por vezes, até coadjuvada com algum enrolamento prévio do carreto, para contrapor a elasticidade do fio;
- permite trabalhar com a embraiagem do carreto mais fechada, atendendo a que a elasticidade do conjunto colmatará melhor possíveis falhas do material, do pescador, ou de ambos, principalmente no que se refere a lutas com exemplares de maior porte.

CP mais rígido:
- nas mesmas condições de mar e vento, e pelas razões opostas à elasticidade, tende a não apresentar a isca tão bem, a dificultar a luta com um exemplar de maior porte, mas sem dúvida que sentirá muito melhor e ferrará com maior rapidez, e menos esforço, que um conjunto mais elástico. Verdade também que, no caso de determinados peixes, em determinados dias, e condições de mar e vento, embora este tipo de CP possa sentir e ferrar melhor, pode também acontecer a um pescador menos avisado que, ao sentir o primeiro toque, tente ferrar demasiado rápido e tire continuamente a isca da boca do peixe.
- Em oposição a um conjunto mais elástico, obrigará obviamente a diminuir a pressão da embraiagem do carreto.

Porque de fios se trata, relativamente à elasticidade ou rigidez destes, tenhamos ainda em conta outras reflexões:

- Um maior comprimento de um mesmo fio, fará com se sinta mais a sua elasticidade, mesmo que seja um fio rijo.
- Um menor comprimento de um mesmo fio, fará com que se sinta mais a sua rigidez, mesmo que seja um fio macio.
- Dois cortes de comprimentos iguais, de um determinado fio, da mesma marca, mas em diâmetros diferentes, será mais elástico o que tiver menor diâmetro.
- Em luta com um peixe, e com nós iguais, um maior comprimento de um determinado fio, tenderá a partir mais tarde que um menor comprimento do mesmo fio, devido ao aumento de tempo  necessário para que atinja o limite da sua elasticidade.

Importa também referir que as reflexões acima assumem a sua notoriedade, essencialmente nos monofilamentos, em nylon ou fluorocarbono, sendo muito menos perceptíveis nos multifilares.

Considerando a conversa desfiada, parece-me  importante que as escolhas dos materiais que vão compor os nossos conjuntos de pesca se direccionem na procura do equilíbrio entre elasticidade e rigidez, face às nossas opções de pesca. Para tal teremos em conta, não só os fios, seus comprimentos, diâmetros e potências, assim como as canas, e a forma como regulamos a embraiagem do carreto.

Um CP, para"diversos", ou maiores exemplares, ao fundo, em embarcação fundeada, é, hoje em dia,  normalmente composto pelos seguintes elementos:

Cana: mais rija, ou menos rija, com acção de ponteira, ou acção progressiva, telescópicas ou de encaixe, com comprimentos variando normalmente entre os 2,70 e os 4,00m.

Carreto: adequado ao que se pretende capturar, às profundidades em que se pretende pescar e à frequência com que se pesca, tendo em conta o dispêndio monetário a efectuar.
A regulação da embraiagem deverá ter em conta:
- a elasticidade / rigidez do CP;
- a potência do ponto de ligação mais fraco;
- os objectivos de captura, em termos dos tamanhos dos exemplares;
- as preferências do pescador;

Os fios a aplicar no carreto:

Base de enchimento: monofilamento, em nylon, que, iniciando o enchimento da bobina, tem com única função criar uma base segura de aplicação do fio principal, assim como, colmatar diferenças entre a capacidade da bobina e a quantidade de fio principal que temos disponível, sem emendas. Este primeiro fio não vai participar na acção de pesca, pelo que pode ser de fraca qualidade. Quanto ao diâmetro poderá ser maior que os que a seguir se aplicam, tendo em conta, algum aumento de potência face à rara possibilidade de um dia, um determinado peixe levar tanta linha que lá possa chegar.

Fio principal: multifilar entrançado, com a melhor qualidade possível e espessura / resistência adequadas, que será amarrado à ponta da base de enchimento e encherá, quase na totalidade, a bobina do carreto, assegurando a rigidez necessária às funções a que se destina.
Pela sua rigidez, este tipo de fio assegura o melhor desempenho no que respeita às funções sentir e ferrar, em oposição às funções apresentação da isca e luta.

Ponteira de amortecimento ou Chicote: Corte de monofilamento de boa qualidade, com diâmetro e potência suficientes que lhe permitam lutar com os peixes que procuramos.
Um comprimento adequado à elasticidade que pretendermos ter, face ao equilíbrio do CP, colmatará a rigidez do multifilar e contribuirá para uma melhor apresentação de isca e um bom desempenho em luta com um exemplar de maior porte. Tudo isto, colocando minimamente em causa as funções sentir e ferrar.

Madre da baixada: Corte de monofilamento de boa qualidade, de potência igual, ou inferior, à do fio da ponteira de amortecimento, com comprimento adequado ao conjunto de estralhos que vai levar, tendo em conta os comprimentos e intervalos necessários para que os anzóis de baixo não cheguem às inserções dos estralhos de cima, ou ao elemento de ligação com a ponteira de amortecimento.

Estralhos: Cortes de fio de boa qualidade, de potência igual ou inferior ao da madre da baixada, com comprimentos que se entendam serem os mais adequados.

Tendo por base o acima descrito, as técnicas que pratica, os exemplares que procura, a frequência com que pesca, as condições variadas de cada jornada e o investimento a que se dispuser, entre outros factores, um determinado pescador poderá então optar de várias formas:
- adquire e prepara um conjunto mais rígido;
- adquire e prepara um conjunto mais elástico;
- adquire e prepara um conjunto intermédio;
- adquire e prepara dois conjuntos, um, mais elástico, e outro, mais rígido;
- adquire e prepara conjuntos diversos, tantos, quantas os que achar necessários para cobrir, com eficácia, as variáveis descritas;

Independentemente do que decidirmos adquirir e preparar, qualquer conjunto pode ser adaptado, independentemente de alguns elementos fundamentais, mais ou menos rijos. Isto é:

- podemos colmatar a rigidez duma cana, usando tipos e comprimentos de monofilamentos que tornem o conjunto mais macio, ou seja: não esquecendo a potência necessária do monofilamento, se, por exemplo, aumentarmos o comprimento da ponteira de amortecimento, conseguimos amaciar o CP. Acção contrária, pelas mesmas razões, aumentará a rigidez de um conjunto elástico.

Se formos atrás de modas e comprarmos continuamente o que está na berra, todos estes factores tendem a complicar as aquisições e preparações de conjuntos. Podemos no entanto facilitar..., se entendermos adaptar o que já temos, recorrendo a materiais actuais, bem escolhidos, que pelas suas características, poderão resolver as nossa necessidades.
Não critico nenhuma das opções - complicar ou simplificar - vou limitar-me a falar das minhas, com base nas observações efectuadas e resultados obtidos.

Os anzóis..., tamanhos e características:

Se falar de fios é complicado, quando passamos aos anzóis, nem sei que diga.

A escolha dos anzóis dependerá sempre, entre outros possíveis, dos seguintes factores:

- Qualidade superior, procurando o menor peso para o mesmo efeito.
- Adequação aos exemplares que se procuram.
- Adequação à montagem em uso. Em montagens de anzol único num estralho, ou líder, o anzol tenderá a ser maior do que se montarmos dois anzóis em tandem no mesmo estralho, ou líder.
- Adequação à técnica em uso. A pescar à chumbadinha, atendendo ao tamanho das iscadas, com um anzol, ou dois, em tandem; anzóis direitos e mais abertos tendem a prestar melhores serviços no caso dos Pargos, quando iscando com sardinha ou cavala. Já no que se refere às Douradas, iscando com caranguejo, anzóis um pouco mais pequenos, tipo chinu tendem a melhorar resultados.
- Adequação às iscas e formatos de iscadas. Ter em conta as reflexões nos pontos anteriores.
- Adequação face à espessura / potência das linhas (estralho ou líder) em uso. Montar um anzol 5/0, ou maior, num estralho 0,30, ou mais fino, não tem grande lógica. Em fios mais grossos e rijos, os nós em anzóis de argola são mais fiáveis.
- Versatilidade face à maioria dos factores acima descritos. Parece difícil, mas existem anzóis no mercado que, pela variedade de tamanhos, formatos e resistências, se adequam a quase todas as situações. Tal permite-nos, eventualmente, reduzir o número de tipos e marcas a adquirir, garantindo a operacionalidade que pretendemos.

Face ao descrito, importa encontrar um equilíbrio entre fios e anzóis quanto a comprimentos e espessuras ou potências, no caso dos fios, e, entre formatos e tamanhos, no caso dos anzóis, não esquecendo a adequação aos conjuntos de pesca escolhidos, e aos nossos objectivos de captura. Depois, temos de pescar e adaptar o nosso comportamento às condições de pesca com que nos depararmos, em determinado dia. Quer isto dizer que:

1. Não existem conjuntos de pesca infalíveis.
2. Desde que tenhamos um conjunto de pesca actual, minimamente aconselhado, quando não capturamos, as razões raramente estarão sediadas no material, antes..., na nossa incapacidade de nos adaptarmos a ele, face às condições do dia; na escolha de pesqueiros; nas rotações que o barco dá, quando fundeado; na escolha das iscas e formatos de iscadas; ou até, na frustração de não sabermos como lidar com situações de insucesso. Por tal, na grande maioria dos casos, não valerá a pena culpar o material e ir à corrida comprar igual ao do fulano que capturou..., melhor será tentar perceber, com o nosso material, como lidar com situações idênticas.
O mesmo sucede em dias que tudo corre bem, capturamos, estamos felizes, tudo funcionou e o material que usámos é o melhor do mundo, ou..., terá unicamente ajudado, num dia em que todos os outros factores estiveram a nosso favor?

Penso que dá para entender que já testei muito material, gastei mais que o necessário e bati muitas vezes com a cabeça na parede, factos que me permitiram as reflexões produzidas, assim como ter, há algum tempo, um conjunto de opções de material, relativamente simples, que adequo, mas pouco altero.

Como fui alterando o material:

Levei o meu tempo a ir contra o que estava mais instituído..., fios finos e anzóis pequenos, mas:

- os peixes que se soltavam, tudo indicava, porque agarravam a isca e os anzóis, mas não se ferravam por falta de tamanho adequado;
- os dias de peixe miúdo que roubava iscas e também não ficava nos anzóis, ainda que pequenos;
- os peixes que se perdiam porque os fios finos, por mais que se trabalhasse a embraigem do carreto, ou partiam por falta de resistência, ou permitiam que o peixe se desferrasse por demasiadas hipóteses que o tempo de luta lhe dava;
- os embrulhos de linha que estralhos mais finos tendiam a provocar. mesmo com sistemas efectivos que tendiam a evitar estas torções;
- a escolha  de iscas maiores, que pediam anzóis de tamanhos acima e consequentemente fios que se lhes adequassem;
- a percepção de que com materiais mais pesados e iscas maiores e diversas, as capturas de peixe maior eram mais regulares e frequentes, mesmo face a outros pescadores a pescarem mais fino. Isto, sem exageros.
- a constatação de que estralhos mais compridos, para além de afastarem as iscas das madres e inserções de estralhos, tendem a acompanhar melhor os movimentos do mar e consequentemente a apresentarem melhor a isca, assim como permitirem que peixes mais desconfiados comam, sem sentirem as prisões iniciais dos iscos;
- a constatação de que mesmo os peixes, na gíria, mais "mafiosos", como sargos, douradas e até os famigerados besugos, caíam tão bem a anzóis e iscadas grandes, e linhas mais grossas, por vezes até melhor, comparativamente a quem decidia montar um conjunto de pesca, todo malandro, "especial besugo", ou o que lhe queiram chamar;
- a constatação de que, na maioria dos casos, a conjugação entre os comportamentos dos pescadores, em acção de pesca, e os posicionamentos no barco, face às condições de mar e vento, mais que os materiais em uso, eram nitidamente as variáveis mais influentes nas capturas...;

... portanto, entre outras observações, tudo o acima referido, coadjuvado pelos resultados que se foram obtendo, levaram a concluir que:

1. A introdução contínua de variáveis, ao nível de novos materiais, sem variações significativas de espessuras ou tamanhos, para além de não permitirem testes efectivos sobre as que se abandonavam, de algum modo escondiam a influência de outras variáveis tão, ou mais importantes.
2. As variáveis mais influentes nas capturas não estavam essencialmente centradas no material em uso.
3. Os fios e anzóis, respectivamente, mais grossos e maiores, com iscas adequadas, melhoraram nitidamente a qualidade de capturas.

Num exemplo extremo de adaptação, que, de algum modo, sempre tenho presente, deixo-vos saber o seguinte:

Os pescadores profissionais de Sines, de há muitos anos, e até aos dias de hoje, pescam às douradas nesta época, fundeados, com engodo de caranguejo, linhas de mão, em monofilamento de 0,80, madre de 0,60, um anzol em cima para peixe menor e, com um estralho de baixo, bem comprido, em 0,50/0,60, onde aplicam um anzol sempre maior que 4/0, iscado com caranguejo. E meus amigos, capturam douradas à séria, ao fundo e a meia água, usando chumbadas que, em muitos casos, chegam às 400g.

O material que usam é o mais adequado? Certamente que sim, face às adaptações aos seus hábitos, ao número de pescadores a bordo (1 a 2), aos barcos que usam, e à forma como escolhem, fundeiam e trabalham os pesqueiros eleitos.

Alguns de vós poderão questionar-se:

Olha o gajo..., então se aquela forma de pescar é assim tão produtiva, porque é que ele não faz o mesmo?

A quem tais dúvidas assolem, passo a explicar:

- não sou pescador profissional, pelo que não posso escolher um pesqueiro, fundear uma bóia, com três ferros e com o nome do barco que chega a ficar semanas no mesmo local, legalmente respeitada quanto a distâncias, por outros pescadores profissionais, ou lúdicos;
- não dá jeito nenhum, com 3 ou 4 pescadores a bordo, ter 100 metros de fio a passear dentro do barco, sujeito a ventos e consequentes embrulhadas, pelo que uso os meus conjuntos de pesca com cana, carreto e etc.;
- na qualidade de pescador lúdico, tenho de procurar os meus pesqueiros, fundear correctamente, e, no caso do barco rodar durante a jornada, se necessário, tornar a posicioná-lo de modo a que as minhas iscas actuem onde devem, devido à impossibilidade de, como os profissionais, bastar folgar um dos cabos e caçar dois dos outros, ou vice versa, para ficarem sempre posicionados no local mais quente.

De qualquer modo, tal não implica que ande sempre a mudar de material, só porque num dia ou outro, a coisa não me saiu bem. Na verdade, também a eles acontecem dias em que nada funciona, mas, regularmente, as capturas acontecem.

Tendo em conta a conversa desfiada, eis os materiais que actualmente, e já há alguns anos, uso:

Canas para fundo e chumbadinha:

- 7EVEN,  CARSON e BARROS Fundeado XB 3,30, todas entre os 3,30 e os 3,70 metros, de 3 partes com ponteiras, já descontinuadas, com acções progressivas mais para o lado do rijo.
A Stell Power, devido ao seu peso, uso-a essencialmente para pescar à chumbadinha, ou com isca viva, apoiada no caneiro.
A 7EVEN e a CARSON vão a todas e, destas 3 canas, nenhuma tem menos de 8 anos, e, não digam a ninguém, mas ainda tenho uma 7EVEN, igualzinha, oferecida por um amigo, quase a estrear. Já a BARROS é recente.

Carretos:

- Cabo 60 da Quantum, o que mais uso a pescar na mão, muito maltratado e capaz de tudo. O 1.º que apareceu à venda em Setúbal, penso que há mais de 8 anos.
- Banax Mighty 2000, também oferecido, uso para a Chumbadinha e nunca se queixou, tendo em conta a sua relação preço/qualidade.
- Daiwa BG 4500, faz parelha com o Cabo 60.
- Penn 8500 SS, uso essencialmente para pescar com isca viva, apoiado no caneiro. Tem 22 anos.

Multifilares:

- Corstrong da Cormoura, 0,27, o que mais tenho usado nos últimos anos, sem qualquer problema. Ultimamente, estou a mudar para fios com cores variadas, pelas vantagens que apresentam relativamente à percepção da quantidade de linha que está na água, e não devido a qualquer outra razão. Nestes fios coloridos tenho o Sufix 0,24, num carreto, e estou agora também a experimentar o Daiwa J-Braid x 8, em 0,24, muito devido à qualidade que parece ter e ao preço acessível. Se este fio se comportar, usá-lo-ei o máximo de anos possíveis.

Monofilares:

Ponteira de Amortecimento:

- Gorila da Tubertini UC-4 0,45, tanto para o fundo quanto para a chumbadinha.

Madre da baixada para pescar com dois estralhos:

- Gorila da Tubertini UC-4 0,45, ou 0,50. Isto porque, quando me falham as linhas dos estralhos, em fluorocarbono, faço estralhos com o Gorila 0,50 e capturo na mesma. Não faço com o 0,45 porque se embrulha com facilidade.

Estralhos:

- flurocarbono P-line 100%, 0,41, ou Asso 100% 0,45. Na falta destes, uso mesmo o Gorila UC-4, em 0,50.

Bases de enchimento de carretos e fiéis da chumbada:

- qualquer 0,40 da colecção de fios da treta que, em tempos, desnecessariamente experimentei e já não uso.

Comprimentos e adequações:

Ponteira de amortecimento: 12 a 15 metros, dependendo da profundidade a que pesco. Se pesco menos fundo, aumento o comprimento, porque é mais fácil sentir em menos profundidade e porque preciso de mais amortecimento em luta, atendendo a que menos profundo, as lutas são mais vivas e brutais.
Quando pesco mais fundo, diminuo o comprimento da ponteira de amortecimento, porque preciso de sentir melhor e porque as lutas são menos vivas e mais pesadas, levando-me, por vezes, a aumentar os diâmetros para 0,50, principalmente quando a pescar perto de estruturas altas.

Madre da baixada: entre 120 e 150cm, dependendo do tamanho dos estralhos.

Estralhos de cima: 60 a 80cm

Estralhos de baixo: 80 a 100, por vezes 120cm

Nota 1: Sobre as variações dos comprimentos dos estralhos, tendo cada vez mais a ir para os mais compridos, independentemente das condições que se apresentem e principalmente se houver aguagem.

Nota 2: Uso as mesmas espessuras e comprimentos, independentemente das profundidades a que pesco, desde os 20 até aos 100 ou mais. Por vezes, quando o peixe miúdo é muito e só sobem bogas e cavalas, corto o estralho de cima, aumento o comprimento do estralho de baixo para 150cm, ou mais. Aumento também o tamanho do anzol e isco com sardinhas inteiras ou outras iscas fortes, como Lula, Cavala..., etc., deixando comer à vontade. Nesta situação, tal adaptação tem resultado com regularidade.

Anzóis pesca ao fundo com dois estralhos, ou chumbadinha com montagem tandem:

- Hayabusa FKS 130, em uso há mais de 14 anos.
- Barros Gora-EN, uso recente, escolhido por ser de argola, barato, resistente e um pouco mais aberto que o Hayabusa,
- Asari ANOS, em uso também há bastante tempo.

Anzóis para chumbadinha, com montagem de anzol único:

- ainda uso os Kong da Hiro em tamanho 8/0. Quando acabarem tenho de procurar substitutos direitos, abertos e também grandes.

Tamanhos dos anzóis:

- Os tamanhos variam entre os 3/0 e 8/0. Os 3/0 e 4/0 para montagens em tandem; 5/0 e 6/0, para montagens de dois estralhos, com um anzol por estralho; e, maiores, para montagens de chumbadinha com anzol único.

Portanto, meus amigos, estes têm sido os materiais eleitos nos últimos anos, sendo que as marcas até podem mudar, mas os tipos e formatos vão-se mantendo.

Quando a pescar ao fundo, com estralhos, ou à chumbadinha, uso respectivamente as mesmas montagens para todo o tipo de peixe que procuro e, conforme os sinais dos toques e o que vai acontecendo ao longo do dia, vou adequando o meu comportamento aos conjuntos de pesca em uso, podendo também adequá-los, quanto a comprimentos, anzóis únicos, ou em tandem, pesos de chumbada, etc.. Desta forma, em conjunto com o tipo de materiais que ao longo do tempo elegi, adequo-me às restantes variáveis que são muitas, e quanto a mim, bem mais importantes, embora mais difíceis de entender e, consequentemente, dominar.

Certo é que, com base nas reflexões produzidas e nas escolhas efectuadas, a regularidade de capturas, mesmo neste ano da graça de 2016, em que a pouca frequência de pesca, por razões diversas, foi um caso nunca visto, ainda assim permitiu algum sucesso.

O Tózé, ali por alturas de Março:


Ainda o Tózé, no mesmo dia:


Douradas de verão, já ao lado do meu pé:


Pescarias pouco profundas de início de Verão:


Nem em Sines parei de trabalhar, raios partam isto:


Mais Douradas, ainda no Verão:


Olha..., Robalos também, ao fundo:


Parte de uma pescaria a solo:


Parte de outra acompanhado:


Mais outra..., no seu início:


Um Parguinho de fim de Verão:


Também um Robalito:


E por último, após um interregno de mais de um mês, com manutenção e arranjos de barco à mistura, eis, de 28 de Novembro, 2.ª feira, um moço mais crescido... 


..., acompanhado por outros, não muitos, nem do mesmo tamanho e qualidade.


É hora de voltar ao porto...


..., sem promessas de quando volto, mas com a vontade de que seja com a brevidade possível.

Sobre a presente entrada, não sei se demasiado comprida, espero ter-vos poupado algum tempo e dinheiro, assim como, ter passado a mensagem de que, para além do material que usamos, muitas outras variáveis poderão influir sobre as nossas desditas e os nossos sucessos, cabendo-nos talvez analisar melhor, antes de acharmos que o material nos faz pescadores, em vez de o olharmos como uma parte, que embora importante, não será certamente a panaceia para todos os nossos males, ou a principal razão dos nossos sucessos.

Os meus sinceros cumprimentos a todos os leitores

Abraço

Ernesto

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Atitudes e Comportamentos do Pescador Versus Factores Sorte/Azar


A jornada de pesca chegou ao fim, ruma-se ao porto, pensamentos sobre os resultados do dia, e o que a eles levou, envolvem-nos, como que prolongando o prazer de mais uma deliciosa jornada e, quase inconscientemente, fazemos comparações com resultados, melhores ou não tão bons, de outras jornadas, em épocas idênticas, nos mesmos pesqueiros, ou em outros.

Não sei se acontece convosco, mas comigo sempre assim terminam as jornadas de pesca, sendo que tais pensamentos se prolongam, em análises e reflexões contínuas, até que volto para a família e outros afazeres, tornando a assolar-me nos tempos livres, em seco.

Muitos dos pensamentos, análises e reflexões referidas, têm sido partilhados convosco através das linhas que vou escrevendo, espalhadas no tempo, mas, de vez em quando, importa dar-lhes uma orientação, como direi..., talvez mais prática.

Na última de três saídas de pesca com pessoal amigo, relativamente iniciado nestas lides, em que as pescarias foram bastante regulares, em qualidade e quantidade, quando navegava para o porto dei comigo a pensar que para além destas assim terem corrido, também as anteriores, desde Julho/Agosto, assim como muitas outras, principalmente quando a frequência de pesca é mais assídua, se têm revelado, com algumas excepções, normalmente produtivas.

Tais pensamentos levaram-me, logo em seguida, para questões relacionadas com os factores sorte e azar, muito badalados nesta nossa actividade, fazendo-me inicialmente pensar que sou um "sortudo", o que de facto tenho sido, com a saúde e a hipótese de pescar assiduamente, mas, no que respeita a capturas, já não acredito tanto, pois seria muita sorte junta.
Então, lembrei-me que muita da minha "sorte" na pesca, poderá estar sediada nas Atitudes e Comportamentos, os quais têm vindo a ser afirmados em muitos dos escritos que por aqui tenho produzido, parecendo-me no entanto carecerem de reflexão específica, ordenada e prática, para melhor entendimento, meu, e de quem lê o que escrevo.

No sentido de identificarmos alguns conceitos, analisemos algumas frases, normalmente ouvidas em conversas habituais em círculos diversos de pescadores...

"... para mim o que interessa é ir pescar. Se der, deu, se não der, logo dá para a próxima".

Esta dá para tudo...

Ouve-se muito a pescadores que vieram de papo cheio, assim como a outros a quem a coisa não correu bem.
Independentemente das intenções com que se profere, tem contido um conceito com forte ligação à influência dos factores sorte/azar.

"... hoje não havia peixe", ou, "o peixe não queria comer".

Neste caso, porque o peixe habita e come no mar, ou o pesqueiro foi mal escolhido, ou o fundeio mal efectuado, ou o peixe queria outras iscas/formatos de iscadas, ou ainda, desistiram de pescar antes da hora do peixe ficar activo a comer.
Pode acontecer, por exemplo, na época de desova/acasalamento das Douradas, atendendo a que, em determinada hora, de determinado dia, enquanto os bichos estiverem a tratar da "vidinha" deles, não comem. Certo é que, com marcações de sonda ricas de actividade, não raro, só começam a comer a determinadas horas do dia, mas como andam por ali e não querem ser incomodadas, os peixes miúdos são "chutados" e também não comem.
Para todos os efeitos, esta é outra frase típica onde é forte o crédito nos conceitos relacionados com os factores sorte/azar.

Mas ainda mais engraçado é que habitualmente, quando um pescador "carrega" de peixe, tende a achar que sabe muito, e até explica como foi; tem o melhor material do mundo e usou da melhor forma a única e melhor tratada isca. Se a coisa correr mal, na maioria dos casos, este mesmo pescador atribui o seu desaire aos factores sorte/azar.

Fica a questão: então se soube tanto quando capturou, como é que sabe tão pouco quando se verificou o contrário?

Muitas outras frases se ouvem, atribuindo culpas a quem comanda o barco, ao material, ao lugar em que pescou no barco, mas, de forma recorrente, raramente se ouve um pescador assumir que hoje não lhe correu bem porque acha que falhou, aqui ou ali, se desinteressou, não soube reagir a adversidades, fez tudo igual a muitos outros dias, num dia diferente, em suma, assumir a sua falta de conhecimento sobre os peixes, os pesqueiros onde actuou, a adequação de iscas e materiais face às condições de mar e vento que se apresentaram e um conjunto de outros factores.
Certo é que o conhecimento sobre determinados assuntos, só se consegue adquirir quando a nossa atitude for assumir que desconhecemos e, a partir daí, estudarmos, observarmos, perguntarmos, praticarmos, testarmos, modificarmos, e assim sucessivamente, repetindo os ciclos de aprendizagem, ao longo da vida.
Caso o não façamos, vamos baseando a nossa pesca essencialmente na qualidade e quantidade de materiais que vamos adquirindo, continua e compulsivamente, deixando aos factores sorte/azar a grande fatia sobre o controlo dos resultados da nossa pesca.

Face ao descrito e tentando alinhar pensamentos, parece-me existirem duas grandes áreas onde devemos investir no sentido de melhorar a nossa pesca:

- Conhecimento
- Atitudes e Comportamentos

Conhecimento:

Tentando ordenar, em termos de áreas, deixo-vos a minha opinião sobre o conjunto de conhecimentos, entre outros (nunca são demais), que se devem tentar adquirir, e continuamente melhorar:

- Tipologia de fundos e razões da sua relação com a visita e/ou permanência das espécies que procuramos, em épocas determinadas, o que farão deles zonas de pesqueiros, ou não.
- Comportamento das espécies que se procuram, tendo em conta alimentação, acasalamento e relação entre profundidades e épocas mais produtivas.
- Adequação de iscas naturais, mortas ou vivas, ou artificiais, tendo em conta espécies a capturar, pesqueiros onde se actua, técnica de pesca em uso e momento de determinada jornada.
- Aquisição e adequação de materiais, para além de modas e marcas, tendo em conta as funções que devem cumprir em cada técnica utilizada, simplificando-os o mais possível, sempre considerando os factores de conhecimento anteriores.

A ordenação e divisão das quatro áreas acima referidas não querem dizer que estão divididas ou que deverão ser abordadas à vez, e por ordem. Estão directamente relacionadas, não têm fronteiras e devem ser consideradas interdependentes no processo de aumentar os nossos conhecimentos, tanto teóricos, quanto práticos, sobre as mesmas.

Vejamos exemplos práticos:

Considerando a presente época e, mais uma vez, a pesca direccionada às Douradas, deveremos procurar dominar, em simultâneo, um conjunto alargado de conhecimentos, como sejam:

Tipos de fundo, profundidades, comportamentos da espécie ao longo da acção de pesca, iscas, iscadas, materiais, técnicas em uso, e, muito importante, como aplicar tudo isto, nos locais e à hora certa, face às condições de mar e vento que se apresentarem logo de início, tendo em conta que poderão alterar-se ao longo da jornada, influindo negativa ou positivamente no pesqueiro ou zona de pesqueiros onde se actua, sendo que tal poderá obrigar a alterações de fundeio, de técnica e eventualmente de iscas e formatos de iscadas.

Por exemplo..., sem aguagem, as Douradas poderão pairar em fundos entralhados, junto às bases de estruturas rochosas, mais ou menos importantes, e até sobre os seus bicos, abrindo um leque de opções e técnicas, todas elas passíveis de bons resultados.
Na presença de aguagem, e dependendo da sua intensidade, é natural que os comportamentos se modifiquem, normalmente com os peixes a abrigarem-se dos efeitos desta ou a utilizarem-na em deslocações para locais que entendam mais propícios, sendo que neste caso as nossas iscas deverão actuar nesses locais, ou nas zonas de deslocamento.
Num dia que começa sem aguagem, e em que a determinada altura esta entra, ou vice versa, é quase certo que teremos de alterar algo, tanto no caso de estarmos fundeados, quanto no caso de estarmos à deriva ou "rola". Mas serão sempre os resultados e os toques do peixe, ou ausência deles, os indicadores da necessidade de alterações.

Considerando o exemplo supra, que em si já indicia a necessidade de aquisição dos conhecimentos referidos, e não só no que a Douradas se refere, sem dúvida que as nossas atitudes, ao longo de uma jornada de pesca, a que chamo positivas, entre outras possíveis, deverão ser de:

- Constante observação
- Constante reflexão e análise
- Constante concentração na acção de pesca
- Constante abertura a melhorar fundeios, alterar derivas ou mudar de zona de pesqueiros, se assim o acharmos necessário, bastando para tal que, pela relação entre capturas não conseguidas, toques ou ausência deles, deixemos de acreditar no pesqueiro ou zona onde actuamos.
- Constante abertura a mudar de técnica e consequentemente adequar iscas, iscadas e materiais, tendo em conta, o puro teste, ou o que achamos que estará a acontecer face à ausência de resultados conjugada com alterações significativas das condições de mar e vento. assim como movimentações de embarcações em acção de pesca muito próximas de nós.

Neste processo, devemos esquecer conceitos do tipo:

- Hoje não há peixe
- O peixe não quer comer
- Hoje não é o meu dia

Se não conseguimos capturar, então foi porque não soubemos escolher o pesqueiro, fundear e/ou derivar correctamente, usar as iscas certas e iscadas no formato adequado. Eventualmente não teremos usado o material da forma mais correcta, ou não soubemos adequar todas as variáveis referidas ao estado do mar e do vento, enfim... precisamos ir mais, conhecer mais, e não nos dispersarmos unicamente no que é mais normal..., as discussões intermináveis sobre o material em uso - a única coisa que conseguimos ver fora de água - já para não falar da sorte e do azar.

Na verdade, quando se procurar conhecer, versus suportar insucessos e sucessos nos factores sorte/azar, ou unicamente no material em uso, vão sentir-se, a curto médio prazo, alterações significativas nas nossas "Atitudes e Comportamentos". Isto porque na medida dos conhecimentos adquiridos, verifica-se a tendência para a organização de processos dinâmicos que, permitindo-nos relacionar opções com resultados obtidos, promovem a regularidade no que respeita a conseguirmos capturas das espécies que procuramos. Umas vezes mais... outras menos.

Como habitual, gosto de fundamentar as reflexões e análises que vou produzindo, com relatos que penso, as fundamentam. Vamos a eles!

Alguns dos leitores já se aperceberam que, de vez em quando, organizo uns Workshops de Pesca Embarcada, agora em colaboração com a Escola Náutica Longitude. Eis os títulos:

1 - Procurar Pesqueiros, Sondar e Fundear
2 - Iscas, Iscadas, Materiais e Montagens / Aplicação ao longo de uma jornada de pesca

Nota: Clicando nos títulos, têm acesso aos respectivos conteúdos.

Pormenorizando um pouco... o primeiro, desenvolve competências, ao nível da utilização das Cartas de Fundo, Sonda e GPS, no que respeita à autonomia na procura de pesqueiros e no fundeio ou deriva correctos. O segundo, desenvolve competências no que se refere à Acção de Pesca, caracterizando iscas, iscadas, materiais, montagens..., e respectiva utilização face a cada dia, e cada momento, tendo em conta o que os toques e o enquadramento geral da jornada nos dizem.

Estas acções, antes constando unicamente de um dia em sala de aula, com apresentação em Power Point, passaram, de há um par de anos para cá, para um dia em sala e um dia com aplicação prática no mar.
Realizam-se normalmente em fins de semana - Sábado em sala e Domingo no mar - sendo que, tanto devido às condições climatéricas, quanto ao número de alunos por acção, as aulas de mar poderão ser logo no Domingo seguinte, ou alargar-se por vários dias, atendendo a que estes programas são abertos a um máximo de nove participantes e, por uma questão de acompanhamento e qualidade, só levo ao mar três ou quatro de cada vez, nomeadamente no Workshop que trata da acção de pesca.

A análise e reflexão sobre a parte prática do último destes cursos - Acção de Pesca - penso, poderá fundamentar dias bons, e não tão bons, de pesca pensada e feita, através de um olhar crítico para atitudes, comportamentos e opções que podem muito bem ser as razões de uns e de outros.

Data prevista do curso: 14 e 15 de Novembro de 2015

Dia em sala: 14 Novembro.

Saídas para prática de mar: dias 15, 16 e 19 seguintes.

Caracterização dos alunos: a maior parte deles, iniciados nas lides da pesca lúdica e só dois, dos oito participantes, tinham material de pesca, e barco.

Técnica em uso em todas as jornadas: Fundeado, com madre de dois estralhos compridos.

Iscas em uso: Sardinha e Caranguejo

Em todos os dias foi minha função escolher o pesqueiro e fundear, explicando aos participantes porquê, tendo em conta a época, o tipo de fundo, os exemplares procurados - Pargos e Douradas - e as imagens de sonda.
Ao longo de cada jornada apoiei continuamente todos a bordo, quanto ao manuseamento e escolha de materiais, assim como, quanto às reacções aos toques sentidos, analisando e realçando continuamente as alterações que se iam verificando e as suas relações com a nossa acção sobre os pesqueiros.

Relato de dia 15:

O melhor exemplar do João Almeida:



O melhor exemplar do Pedro Nunes:


A pesca toda de dia 15:



Relato em imagens de dia 16:

O melhor exemplar do António Alegria:


O melhor do Mário Tomás:


Num pequeno espaço de pesca, calhou-me a melhor do dia:


A pesca toda de dia 16:



Relato em imagens de dia 19:


Analisando os resultados de cada dia, importa referir que nos dias 15 e 16, pescámos no mesmo pesqueiro onde, face às condições de mar e vento, nos mantivemos todo o dia no mesmo local, sem variações do posicionamento do barco.

No dia 19, mudámos de pesqueiro e devido a variações contínuas de direcção e intensidade do vento (sempre fraco), e ausência de aguagem, o barco rodou todo o santo dia, sendo possível identificar que sempre que colocávamos as iscas na zona quente, capturávamos, e, logo que o barco rodava, deixávamos de capturar. Neste dia as capturas foram bem mais modestas, indicando talvez má escolha do pesqueiro e eventualmente da técnica em uso.

Considerando o acima referido, penso que se tenho ido para o mesmo pesqueiro - o de 15 e 16 - a aguagem, tendendo a ser mais forte, em dia de vento fraco, manteria o barco no mesmo pesqueiro, decorrendo eventualmente de tal uma maior produtividade.
Outro possível erro, poderá ter sido a técnica em uso..., eventualmente uma mudança para pesca à deriva, usando a Chumbadinha como técnica, poderia ter permitido passagens contínuas sobre a mesma zona quente, tendo em conta o acompanhamento das alterações da deriva ao longo do dia.
Caso sejam outras as razões da menor produtividade do dia 19, pura e simplesmente, desconheço-as e por tal não se conseguiu melhor. Tenho de aprender mais, pois a sorte e o azar não tiveram nada a ver com o assunto, ou pode ainda dizer-se que o "azar", deste dia, foi directamente proporcional à minha incapacidade de discernir e optar bem.

Com base em tudo o que foi dito, no passado Domingo, dia 17 de Janeiro, também durante a parte prática do workshop Procurar Pesqueiros, Sondar e Fundear, após todos terem conduzido o barco, sondando e identificando estruturas submarinas, suas dimensões, suas orientações e suas áreas supostamente mais quentes, até à interiorização prática dos conceitos que estão na base destas acções, resolvemos pescar.

Analisemos os factores que estiveram na base da escolha do local:

Os trabalhos práticos do workshop terminaram pelas 12.30, o que nos limitou o tempo útil de pesca que neste caso foi um bónus, atendendo a que normalmente este workshop não tem acção de pesca.

O vento era fraco, esperava-se que rondasse durante o resto do dia, e, pela determinação da deriva, percebeu-se que tinha aguagem contra ele, no fundeio inicial.

Considerando as condições descritas, o grande objectivo a cumprir, seria maximizar o tempo útil de pesca que já escasseava.
Para tal importava não ir para muito longe, poupando tempo na viagem, e, no sentido de evitar andar a mudar de zonas, fundear num local adequado à época, pensando em Pargos, Douradas e Sargos, onde a influência das rotações esperadas do barco, afectassem minimamente a acção de pesca..., uma escolha difícil para quem não conhecesse os fundos por ali.

Escolheu-se uma zona. a pouco mais de uma milha do porto, cujos fundos base andam pelos 50/52 metros, constituída por fundos mistos de areia e pedra rasa (entralhados), e rodeada por estruturas que subiam aos 29 e 37 metros.
Sondada a zona, verificou-se que um pouco por todo o lado se via actividade, sendo esta mais intensa junto às bases das estruturas mais altas.

Com a premissa de que o barco iria rodar, fundeámos entre bicos, com pouco cabo e com a intenção de, para onde quer que o barco rodasse, não ficasse muito longe da base de uma estrutura mais alta.

Fundeio efectuado, e vá de actuar sobre o pesqueiro, com sardinha e caranguejo, esperando que tal despertasse a atenção e gulosice daqueles que, considerando a leve aguagem para Norte, tendencialmente se deslocassem entre estruturas, na procura de comida mais ou menos fácil.

Com tudo isto iniciámos a acção real de pesca já passava das 13.00 horas, e devagarinho fomos compondo uma pescaria engraçada, com entradas muito intervaladas de peixe, muito devido, penso eu, à constante mudança de lugar do barco.
Mas uma coisa é certa, em todas as posições por onde o barco passou, ou parou por momentos, sempre se foi capturando um exemplar ou outro, culminando com 6 Pargos, à volta do quilo e meio, um Sargo legítimo perto de quilo, uma Dourada do tamanho dos Pargos, algumas Sarguetas, e, já no fim, como cereja no topo do bolo, saíram-me 6,300kg deste "marmanjo":


Agora poderão dizer-me: foi sorte!

Ao que respondo: talvez..., mas atenção que, nesta mesma zona, com condições de mar, épocas idênticas, iscando da mesma de forma, com o mesmo tipo de iscas, já lá capturei uns quantos destes, e se não destes, bastantes dos outros (Pargos, Douradas e Sargos).
Certo é que, em paralelo com resultados anteriores, a leitura de sonda, as condições de mar e vento, a época do ano..., tudo batia certo.
Tais acontecimentos dizem-me que o factor sorte pode ter lá estado, mas muito diminuído, atendendo aos factores descritos, já para não falar no acreditar no pesqueiro e na insistência em nos mantermos no mesmo local, actuando sobre ele com as nossas iscas, e não desistindo, mesmo nos momento em que já parecia que o peixe tinha desaparecido, sensação que sempre foi contrariada quando se ligava a sonda.

Como que concluindo, parece-me poder dizer que uma pesca frequente e pensada, tende a diminuir significativamente a influência dos factores sorte / azar, desde que consigamos assumir que a melhoria dos resultados da nossa pesca depende essencialmente das nossas atitudes e comportamentos, antes, durante e após acção de pesca.

Boa tarde a todos os leitores